domingo, 28 de novembro de 2010

Reação histórica, mas tardia

Por Fernanda Mello




Nos últimos dias o país tem presenciado cenas marcantes de combate ao narcotráfico na cidade do Rio de Janeiro. Não há outro termo que caracterize melhor a situação do que "Guerra". Durante anos milhares de civis foram mortos. Durante anos a polícia não conseguiu estabelecer uma operação que desestruturasse o crime organizado. Apreensões de drogas e prisões de alguns manda-chuvas do crime pouco significaram considerando que nossas fronteiras continuam escancaradas para a entrada de mais entorpecentes e os criminosos, mesmo em cárcere, continuam comandando o tráfico graças a um sistema prisional corrompido.

Algo mudou. Ao assistir as cenas na TV me parece claro que o enfrentamento do Estado tem tido resultados positivos. A ação é histórica e mostra que quando bem coordenada e executada por profissionais altamente capacitados o crime organizado demonstra não ser tão poderoso e organizado assim. O flagrante dos bandidos em fuga mostra o quanto foram surpreendidos.

Pergunto-me o porquê de tamanha demora para que uma ação como essa fosse iniciada.
Quando criança visitava o Estado do Rio e sempre ouvia relatos sobre a violência da cidade. De lá pra cá esta situação se intensificou e muitas vidas foram covardemente, estupidamente e cruelmente ceifadas. Esta reação tardia me revolta. Como permitiram que o poder paralelo imposto pelo tráfico comandasse a vida de tantos brasileiros? Hoje para que o Estado recupere os territórios perdidos é necessária a união de tropas de elite do exército, marinha, polícia federal munidos de armamento pesado e sob proteção de tanques de guerra.




 A ação que vemos é necessária para devolver a liberdade aos cariocas, principalmente e especialmente as centenas de milhares que vivem nas comunidades. Embora imprescindível esta ação é apenas o primeiro passo de uma longa caminhada. Além de tirar o comando das comunidades dos criminosos é preciso uma mudança profunda nas leis, no sistema prisional e na política educacional.

A punição exemplar de bandidos passa pela premissa básica do cumprimento das penas. Parece óbvio, mas o que testemunhamos é oposto disto. Um condenado acaba sem cumprir sua pena integralmente por motivos como o benefício do regime semi-aberto ou por serem liberados em dias festivos, como o Natal. Em ambos os casos os criminosos facilmente fogem. Além disso, os cúmplices do crime ostentam uma vida confortável e luxuosa, basta ver como vivem algumas das famílias dos chefes do tráfico. Como eles mantêm esse padrão de vida? Algo precisava ser feito e de acordo com os noticiários medidas a este respeito já estão sendo tomadas: esposas foram presas e os bens bloqueados.

A reestruturação do sistema  penitenciário deve ser prioridade neste momento em que o Brasil, simbolizado na mobilização dos cariocas, pede mudança, justiça.  A situação é tão complexa que os agentes carcerários sequer possuem um uniforme que os diferencie dos detentos e eles, que deveriam servir como propagadores da ordem e também como um representante do Estado, sequer passam por um exame psicotécnico em vários Estados da Federação, ou seja, não possuem preparo adequado e indispensável para desempenhar tal tarefa. Fora isto, a remuneração baixíssima faz com que pessoas vulneráveis sejam corrompidas e passem a ser coniventes e aliados do crime, fato este que se aplica não somente aos agentes carcerários, mas também a polícia.




E aos cidadãos, o que deve ser priorizado após a reocupação das favelas pelo Estado? Este primeiro passo foi fundamental para o início da mudança, mas vale ressaltar que se a comunidade não for assistida em suas necessidades básicas muitos continuarão sem acesso aos bens culturais e materiais que lhe são de direito e alguns ainda permanecerão vulneráveis podendo se voltar para o mundo do crime. A política educacional precisa ser reformulada tornando-se aliada principal no combate ao crime. A Educação deve atender a todos e oferecer expectativas reais de crescimento e transformação.

O enfrentamento ao poder paralelo estabelecido pelo narcotráfico finalmente foi iniciado com seriedade e a população ciente disto tem dado demonstrações constantes de apoio. Infelizmente esta reação veio tarde no Rio de Janeiro e continua atrasada em todo o Brasil, pois lembremos que a violência assola todo o país. Que o clamor por uma reviravolta seja sentido em todos os cantos fazendo com que autoridades de todos os Estados possam refletir sobre suas práticas.


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